Por Luiz Pujol. Acesse seu site por aqui.
“A vingança dos eleitores” é como Michael Dobbs se refere às Eleições logo nas primeiras páginas de sua obra literária “House of Cards” que originou a famosa série de mesmo nome.
A ironia empregada em tal expressão pelo autor inglês se amolda ao cenário vivenciado com a proximidade das Eleições no Brasil que é bastante complexo.
A Eleição de 2018 alinha a escolha de vários cargos eletivos: Presidente, Senadores, Deputados Federais, Governadores e Deputados Estaduais.
Embora a mídia insista em criar uma dicotomia, o conflito entre “esquerda” e “direita” nos diálogos cotidianos da população - intensos em 2015 e 2016 - esfriou no último ano.
Como observa Reinaldo Dias, Doutor em Ciências Sociais e Professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie: “atualmente está disseminada a apatia em torno do processo eleitoral relacionando-o com a baixa qualidade dos atuais representantes”.[1]
Diante dos inúmeros escândalos de corrupção, envolvendo dirigentes e figuras importantes de praticamente todos os Partidos Políticos, a população brasileira passou a identificar os políticos como sendo “todos iguais”.
Os cidadãos visivelmente desaprovam o Governo Federal, cuja política de “Reformas” acarreta a destruição de inúmeros direitos da população. Se Reformas são necessárias, o mínimo que se espera é que haja diálogo com a população. Leia-se: diálogo não é propaganda defendendo uma posição.
Por mais que se possa criticar medidas de Governos anteriores, o atual, na Reforma Trabalhista utilizou o exercito para manter o povo longe do Congresso Nacional. Isto é uma vergonha.
A população se pergunta por onde anda o Partido de Ulysses Guimarães? Responsável pela união de diversos interesses conflitantes na década de 1980, fomentador de diálogo e que viabilizou a aprovação da Constituição Cidadã?
Os demais Partidos também decepcionam a população: os “liberais” deixam suas pautas de lado tentando proteger mandatários denunciados; e os “sociais” parecem não conseguir se organizar preferindo discutir suas pautas entre eles mesmos.
A decepção da população se consolida a cada votação no Congresso pela descarada troca de favores à revelia das matérias votadas.
Nos Estados, vários Governadores demonstram total despreparo para com a legislação orçamentária, usando a “crise” como desculpa por sua inaptidão para os cargos, além de alguns serem investigados por corrupção.
Isto sem falar que houveram Estados, onde as Assembleias Legislativas foram sitiadas nos últimos anos por diversas manifestações, muitas resultando no uso ostensivo da policia para confrontá-las.
Não que concordemos em colocar todos os políticos na “vala comum”, todavia, diante deste cenário: é realmente difícil entender a razão de a população estar fazendo tal julgamento? Claro que não.
Os motivos e o sentimento de revolta da população são claros. Cientistas políticos, analistas e a mídia já preveem que a insatisfação da população com os atuais mandatários resultará em menos reeleições em 2018.
O jornal El País recentemente destacou as conclusões do estudo “O Custo Político da Corrupção: Escândalos, Financiamento de Campanha e Reeleição na Câmara dos Deputados” dos cientistas políticos Mercus Melo, Ivan Jucá e Lúci Renno.[2]
Uma das conclusões do estudo é de que: para se reelegerem, os candidatos envoltos em escândalos de corrupção, em média, necessitam arrecadar 72% a mais que os candidatos não envolvidos, e 91% a mais do que gastaram na eleição anterior ao escândalo.[3]
Lúci Renno, professor de ciência política da Universidade de Brasília, acredita que os partidos não servirão como “filtro” para os políticos acusados de corrupção, pois as legendas protegem suas lideranças, no entanto, aponta que a taxa de reeleição pode cair: “é um fenômeno que verificamos durante o Mensalão e o caso das Sanguessugas. E a Lava Jato teve uma amplitude maior ainda, houve um choque informacional muito grande para o eleitor com relação a estes escândalos”.[4]
A necessidade de fomentar o voto consciente e diferenciar os políticos sérios, probos e comprometidos com o interesse público é urgente.
Neste sentido Reinaldo Dias observa que a intensificação do debate eleitoral é bem-vinda, sendo uma forma de aperfeiçoar a participação da população, mas adverte que: "a discussão política se dá com o debate sobre os reais problemas do país e não com a intervenção sectária que desqualifica as opiniões divergentes. Essa é uma manifestação concreta de cidadania”.[5]
A expressão “vingança” logicamente é uma ironia, o que os eleitores querem é “fazer justiça” nas urnas, mostrar sua indignação, e tirar do poder aqueles que figuram em escândalos de corrupção, lavagem de dinheiro e improbidade.
A Eleição de 2018 promete ser tensa e refletir a desaprovação da população com a dinâmica do sistema político atual.
Quem claramente sai com vantagem são: os candidatos “ficha limpa”; os candidatos que não estão envolvidos em escândalos de corrupção; e os que não figuram em delações ou investigações. E realmente, são estes, os comprometidos com a população e o Estado, que devem ser eleitos.
Esperamos que, em 2018, o povo saiba utilizar bem seu direito mais poderoso: o voto.
[1]https://www.ecodebate.com.br/2017/10/16/o-voto-nas-eleicoes-de-2018-artigo-de-reinaldo-dias/
[2]https://brasil.elpais.com/brasil/2018/01/08/politica/1515440006_657001.html
[3]https://brasil.elpais.com/brasil/2018/01/08/politica/1515440006_657001.html
[4]https://brasil.elpais.com/brasil/2018/01/08/politica/1515440006_657001.html
[5]https://www.ecodebate.com.br/2017/10/16/o-voto-nas-eleicoes-de-2018-artigo-de-reinaldo-dias/