quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

A SOCIEDADE E A ACEITAÇÃO DO ABSURDO

Por Paikan Salomon*


Nostradamus e suas previsões absurdas. Dolly, o absurdo da clonagem animal e humana, Da Vinci e suas invenções malucas e absurdas. Até voar era um absurdo, mas então veio Santos Dumont e os Irmãos Wright. Segundo Albert Camus conhecido como filósofo do absurdo, a tendência humana de buscar significado inerente à vida e a inabilidade humana para encontrá-lo. Nesse contexto, "absurdo" não significa "logicamente impossível", mas "humanamente impossível". Mesmo assim a humanidade tem tido o sucesso de realizar o impossível dia após dia. 

O problema, é que essa capacidade de nos adequar está fazendo com que aceitemos absurdos cotidianos (e que nunca deveriam ser aceitos por ninguém). Criança morta por bala perdida nos braços da mãe, guerra civil no Espírito Santo, facções dominando os presídios, corruptos sendo corruptos de forma descarada. Somos reféns desse dia-a-dia e estamos insensíveis para perceber. A relação com o nosso país é tão sufocante que não pode ser considerada amor, parece Síndrome de Estocolmo. 

Nesse contexto, se aprofundarmos mais um pouco chegamos a percepção de que vivermos em um raciocínio coletivo de Niilismo negativo, cuja principal característica é uma visão cética radical em relação às interpretações da realidade, que aniquila valores e convicções. É a desvalorização e a morte do sentido, onde os valores tradicionais depreciam-se e os "princípios e critérios absolutos dissolvem-se". Quando nesta dinâmica prevalecem os traços destruidores, como os do declínio, do ressentimento, da incapacidade de avançar, da paralisia, do famoso “Jeitinho Brasileiro“. Vivemos a banalização da violência, da corrupção na sociedade, onde se prega justiça pelas próprias mãos, onde culpamos as vítimas pelo estupro, onde incitamos a violência pelas redes sociais e onde naturalmente cometemos pequenos ilícitos. Um lugar onde os ricos são imunes à justiça. Vivemos em um lugar onde o TER é mais importante que o SER, e definitivamente praticamos a lei “do mundo é dos espertos”. 

Enfim, faço aqui uma provocação, um apelo, para que juntos e como sociedade, pararmos de consumir a violência, ensinarmos nossos filhos o quão absurdo é obter uma pequena vantagem, seja ela ao estacionar seu carro, ao furar uma fila de um posto de saúde por indicação, ao furar a fila da creche, ao jogar lixo nas ruas, e tantos outros exemplos que podemos dar, mas o principal, é ensina-los o significado do “ absurdo “ e que nunca devemos aceitar, conviver ou ser coniventes com tal sentimento.

Que nossa aceitação ao absurdo seja muito menor na nossa sociedade. E que consigamos viver com muros baixos, onde nossos filhos possam sair na rua, onde as balas não sejam perdidas. E que, com isso, o absurdo em nossa sociedade nunca mais apareça para nos manter refém, só para nos libertar.



*Paikan Salomon de Mello e Silva é membro do Novo Movimento Democrático e militante do PMDB.

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