Luiz Fernando Obladen Pujol[1]
Meus caros amigos, a coisa toda
anda bonita mesmo é só na propaganda.
Lembram dos tempos de escola,
quando o professor de historia falava do Despotismo Esclarecido? Aquela época
na Europa, no Séc. XVIII, em que devido ao impacto do Iluminismo os nobres
começaram a incorporar alguns ideais modernos, porém, buscavam utilizá-los para
tentar manter o poder e os próprios privilégios. O discurso dos nobres era de
progresso e modernidade, mas em verdade faziam de tudo para manter a coroa
sobre suas cabeças.
O Brasil vivência atualmente período
que se assemelha a manobra utilitarista adotada pelos nobres europeus aquela época.
Aqui as bandeiras de ‘’combate à corrupção’’ e “passar o Brasil a limpo” foram
apropriadas e deturpadas por gestores e parlamentares. Na prática: órgãos de
fiscalização foram extintos, reformas legislativas legitimaram manobras
partidárias questionáveis de mudança de legenda, abriu-se caminho para repatriação
de valores sonegados e investigados ganham altos cargos com foro privilegiado.
Não irei falar do show de horrores
com ampla cobertura midiática que foi a votação do Impeachment, algo que
deveria envergonhar todo brasileiro. Ali o Congresso ficou escancarado, era o
prelúdio da cleptocracia. Foco aqui, de modo breve, na sucessão de medidas
vergonhosas e de legitimidade questionável com que estão bombardeando o povo
brasileiro desde então.
No Brasil atualmente senhores que
se aposentaram precocemente orquestram uma reforma da previdência que vai
dificultar e muito a aposentadoria do povo brasileiro; investigados se preparam
para sabatinar aquele que irá julgá-los e investigações continuam focando praticamente
em um único partido. Fala-se em progresso, mas Banco do Brasil e Correios abrem
programas de demissão. E em meio a tudo isso, onde fica a população? Na fila
crescente do desemprego.
Os gastos para manutenção do
Congresso e do corpo político não se altera, mas há redução nas verbas para
universidades. E o que dizer do congelamento de investimentos em saúde e
educação? 20 anos! Condenam toda uma geração à doenças e ignorância.
Discurso bonito e polido partindo
de ocupantes do Poder com formação jurídica e de gestão, projetos com ampla
justificativa formal, mas substancialmente ocas, e que encobrem um desastre
administrativo e a velha politicagem de favores entre autoridades. Parece que
ninguém enxerga o sofrimento da população. Se antes haviam dúvidas sobre a
existência da crise, agora há certeza ! Só que não se fala mais nela.
Os Estados vivenciam a mesma
situação assoladora, a falência dos serviços públicos é
crescente, mas os governos seguem negando os direitos dos servidores. Assim é
que não melhora mesmo. Servidor tem que ser valorizado. O caos visto no
Espírito Santo é reflexo deste descaso com o servidor. Tivesse o governo
estadual cumprido suas obrigações, nada daquilo teria acontecido.
No Paraná a situação não é
diferente, quem dera poder dizer o contrário. Aqui nega-se reajuste aos servidores,
mas se abre licitação para gastar 14 mil
reais por hora com propaganda; Secretários acumulam Jetons, mas negam horas
aula extra aos professores. Há aumento de arrecadação a cada ano, os impostos
não param de crescer, mas servidores e policiais vêem de perto o sucateamento
da administração. Isto sem falar das operações Publicano e Quadro Negro, onde
se investigam desvios na receita e pagamento por obras e construção de escolas
que nunca saíram do papel.
Mas a propaganda é linda de ver, só
há progresso e números positivos, o discurso é de que nunca o Paraná foi tão
bem administrado. A realidade é bem diferente.O que ninguém fala, por exemplo, é
a falta de acesso à informação, nem se quer a Assembleia possui acesso total
aos dados do Governo do Estado.
Já dizia o poeta que até hoje
tanto incomoda o despotismo:
“Meu caro amigo, eu não pretendo
provocar
Nem atiçar suas saudades
Mas acontece que não posso me
furtar
A lhe contar as novidades
Aqui na terra tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e
rock'n'roll
Uns dias chove, noutros dias bate
o sol
Mas o que eu quero é lhe dizer
que a coisa aqui tá preta”.[2]
[1]Luiz Fernando Obladen
Pujol. Advogado militante na área administrativa e eleitoral. Especialista em
Direito Público e Processual. Assessor Parlamentar da Liderança do PMDB no
Estado do Paraná. Membro da Fundação Ulysses Guimarães do Paraná e do Novo Movimento Democrático.
[2] Meu Caro Amigo. Chico Buarque de
Holanda. 1976.
Imagem:
Ilustração de adaptação da obra “A Revolução dos Bichos” de George Orwell.
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